
Tamara Castro
é paulistana, trabalha como assistente editorial e está se formando
em Letras. Tem dois poemas publicados na 5ª edição da revista acadêmica
da Faculdade de Editoração da USP "Originais Reprovados". |
Cidadezinha sequer
Tamara Castro
Era um uma vez um
lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso. Mínimas vozes
emitiam cumprimentos breves a curta distância. Os passos giravam
em torno da praça onde a igreja erguia-se poucos metros do chão ao
lado da figueira tombada. Cãezinhos farejavam o pó levantado por
pezinhos à volta do jardim seco que cercava a construção. O sino
anunciava a manhã correta, com seu azul em nada destacado das
montanhas que cercavam o lugarejo. A distância as tornava pequenas
baças: eram todos míopes na cidade.
Até a chegada de Lúcio, vindo da capital com suas lentes e
líquidos. Em um mês a população foi devidamente atendida e a
deficiência corrigida.
E passaram a temer
a enormidade dos rostos talhados nas pedras que o separavam do
mar. Sob as lentes de aumento, a vegetação que as cobria sufocava
a calma cotidiana. Ninguém mais ousava sair à roda na praça. Os
cumprimentos emudeceram, pois as pequenas vozes não alcançavam
distâncias maiores. E o crescer das visões fez com que o anúncio
domar invadisse a única rua e ousasse penetrar a igreja.
Nas antigas
edificações o vento leste esculpia ruínas, e as ruas silenciosas
infestaram-se de pés ágeis e passageiros, olhos cobertos por
lentes cobiçosas de captar o que bocas agudas chamavam a atmosfera
local. À entrada da cidade resplandecia o outdoor.
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