
Regina Souza Vieira,
carioca, doutora em letras, professora e tradutora de Francês e Inglês.
Premiada em concursos literários, seus trabalhos incluem-se em várias
antologias. Tendo dedicado seus estudos e sua paixão literária à obra de
Carlos Drummond de Andrade, participou das celebrações do centenário do
autor em Itabira. São de sua autoria os seguintes livros:
Sentimentogramas - poesia (RJ: Cátedra, 1987); Boitempo: autobiografia e
memória em Carlos Drummond de Andrade - ensaio (RJ: Presença, 1992);
Revivências - poesia (RJ: Taba Cultural, 1997); Inventivas
verossimilhantes - contos (RJ: Papel Virtual, 2000); A prosa à luz da
poesia - ensaio (RJ: Edições Galo Branco, 2002); Bernardo, o
imprevisível romance (RJ: Edições Galo Branco, 2005); Reflexões em
verso- poesia (RJ: Edições Galo Branco, 2007).
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Toda a vida num único momento
Regina Souza
Vieira
Pensar que a felicidade está onde não estamos é dar asas ao
inatingível; se há momentos em que rimos e nos sentimos plenos, por
que não admitir que a felicidade é possível? Por que essa busca
incessante do ad aeternum, se este tempo não foi feito para nós,
humanos, e sim para os deuses? Se é tão difícil ser feliz e se é
tão bom sê-lo, por que não fingir pelo menos um sorriso. Fingir?
Fingir seria certamente uma máscara e esta não condiz com a vivência
plena que precisamos ter das coisas.
Ser feliz deve ser um peito aberto, desarmado ante o medo da
incongruência ou do inesperado, colocar-se frente à vida sem temer
que um soco por trás pegue-nos as costas. Deve-se confiar e rir,
achando que o momento seguinte será melhor ainda.
Utopia? Que importam denominações, suposições, possibilidades....
ser feliz deve ser tão bom quanto caminhar na chuva e não se molhar;
deve ser tão bom quanto abraçar um amigo, sentindo-o apenas como tal
e, às vezes, sentindo no entrelaçar de braços que não se está
sozinho, que o pior já passou e, doravante, tudo será carinho.
Ser feliz é não estar cansado, não pensar em se compensar do que
quer que seja, porque não há por que ou do que se recompensar. A
chuva se chega fria demais, é gostoso, o dia está abrasante; se a
comida não é a preferida, tanto melhor, está-se satisfeito ou se
quer emagrecer alguns quilos e quanto menos comida, melhor. Se a
gente está feliz é porque está e ponto final. Felicidade é algo tão
bom, tão bom que significa tanto, que esse tanto significa tudo.
Não se é feliz vinte e quatro horas por dia, mas um instante que
seja é o bastante.
Pergunte-se, pois, o que é ou onde está a felicidade e se alguém
disser: — Comigo! ou Aqui!, este alguém terá chegado ao seu momento
epifânico e ainda que, nesse momento cesse o seu respirar, diga-se
deste alguém: — Valeu à pena viver!
E-mail:
reginasv@terra.com.br
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