O enterro de Casemiro
Pedro Lázaro Teixeira
Os moradores de Pains, a cerca de 200 quilômetros de Belo Horizonte, abalaram-se com a
morte de Casemiro.
Numa cidade de quase dez mil habitantes, Casemiro perambulava pelas ruas tão livre qual
um cachorro vira-lata. Todos o conheciam, alguns o apreciavam e, evidentemente, outros
não o suportavam. Talvez pela popularidade que ele conquistara. Sempre a inveja, esta
peste incurável.
Ele freqüentava bares, gostava de jogos de futebol, acompanhava enterros e ia às missas
para desespero do padre, sempre implicando com sua presença.
Puxa, afinal ele também era filho de Deus.
O mais desesperador da história é que muitos desconfiavam que ele havia sido envenenado
por algum desafeto. Há um ano, por exemplo, depois de visitar a cidade de Pimenta (como
Minas tem nomes complicados), ele voltou com a perna quebrada. Parece que fora atingido
maldosamente por um pimentense desequilibrado.
A perna foi amputada e entristecia a todos quando mancava pelas ruas. Nunca descobriram o
autor da maldade, pois não abriram nenhum processo que desvendasse o segredo.
Era tão grande a popularidade que, em 1993, um candidato usou-o como cabo eleitoral, mas
não sabemos se foi eleito. Em todas as seções eleitorais, porém, Casemiro amealhava
dezenas de votos de eleitores desanimados com os edis que ficavam muito a desejar.
O locutor Jésus Divino de Paiva, da rádio SuperFM, comentou: "ele era nosso
conterrâneo mais famoso", ao fazer inúmeras chamadas para o funeral.
Em caixão de luxo ele, espremido entre flores, foi sepultado nos jardins da principal
praça da cidade. A banda municipal executou lindas e enfadonhas músicas clássicas, o
que emocionou muito centenas de assistentes.
O prefeito, candidato à reeleição, fez comovente discurso, declarando que mandaria
erigir uma estátua em homenagem ao ilustre defunto, executada por famoso escultor de Belo
Horizonte. E aproveitaria para convidar o governador Itamar Franco para a inauguração.
Antes que o leitor se debulhe em lágrimas e perceba que não caprichei na biografia do
homenageado, devo declarar que Casemiro era um urubu. Criado, desde que nasceu, pelo
taxista Juarez Soares.
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