
Mariana Ribas Coimbra é
atriz e estudante de arquitetura da UFRJ no Rio de Janeiro. Diz que escreve por uma
necessidade básica, como falou Clarice Lispector: "escrevo como quem vive".
Não sabe ao certo o porquê, não é muito afeita a explicações racionais. Prefere
deixar as coisas irem acontecendo. Além de Clarice Lispector, tem outros autores por quem
é apaixonada, como Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Manuel Bandeira, Rubem Fonseca,
Gabriel Garcia Marques...e tantos outros mais. Já escreveu textos para algumas peças
teatrais das quais participou no Rio de Janeiro (RJ). |
Em extremos
Mariana Ribas
Quero ler e reler as coisas que te escrevi. Quero ler muitas vezes. Até chegar o ponto de
nada fazer mais sentido. Até chegar o ponto do vazio. O ponto das palavras que não dizem
e não comunicam mais. O ponto neutro. O ponto entre o que houve de bom e o que houve de
ruim. A neutralidade de tudo enfim. Quero a neutralidade das palavras e a neutralidade das
ações. Quero que o meu gesto se neutralize ao seu. Que o seu abraço não signifique
mais. Que sua boca não me diga mais nada além do esvaziamento das suas palavras. Que
esta neutralidade seja mútua. Não estou sendo má. Quero a neutralidade para você
também. Mas a neutralidade está tão mais próxima a você. Será que não vê? Meu
caminho tende ao extremo, sempre. Mas você nunca foi extremado, sempre tendeu ao centro
das coisas. E eu sigo no extremo disso. Nos extremos dos lados de cá, que é onde você
não está. No extremo das extremidades das terras dos sem fim. Grito-te de lá, mas o
grito não ecoa. Não há paredes para reverberar. Estou sozinha no extremo das coisas.
Sabe, no extremo não se tem muita gente não. Nem sei dizer se é lugar de gente. Talvez
por isso não se fale muito nele. Lá não cabe a racionalidade de homens que pensam. Lá
não existe a razão dos fatos ou a tentativa de tentar interpretá-los. No extremo das
coisas existe só a veia pulsando e o sangue ainda quente. No extremo das coisas cai a
figura do homem pensante. E reaparecem as patas e os rabos, de quem pensava tê-los
cortado. Lá tudo é real. É a realidade que não se esconde. Tudo se mostra como
realmente é, sem máscaras. O rosto muda de feição a todo instante, reagindo aos
menores estímulos. No extremo se é, a todo o momento. E ser dói. Como ferida de velho
que não cicatriza nunca. É a dor de se saber humano e reptílico, mesmo quando não se
quer. É a dor das constatações dos fatos. O extremo é cruel. Por isso busco o neutro
agora. Não sou mais forte como imaginava. Mas é preciso força para permanecer no neutro
também. O neutro é o esvaziamento das coisas. É o entendimento da perda e sua
aceitação. Tenho medo do neutro. Será que vou aprender a conviver com minhas patas e
meu rabo? No extremo aprendi a aceitá-los. No neutro talvez se aceite, mas sem o uso da
força bruta. A força bruta que me guiou por tanto tempo. Não quero mais guerras. Não
quero mais ter que empenhar espadas. Quero a bandeira branca balançando no alto do
mastro.
E-Mail: mari_ribascoimbra@hotmail.com
Blog: http://www.daqueda.blogspot.com
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