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Soneto da morte sem susto
João Carlos Teixeira Gomes
Minha única certeza é minha morte.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos.
Pode vir de mansinho a forasteira
Ou numa orgia de ossos e fanfarras,
Com dois laços de fita na caveira
E o ágil chocalhar das finas garras.
Eu que os mares amei, e o sol tirânico,
Os flavos grauçás de dorso enxuto,
As moças de maiô e o vento atlântico,
Sereno hei de esperá-la em meu reduto.
E assim ao ver-me, sem sinal de pânico,
A própria morte se porá de luto.
João Carlos Teixeira Gomes é ensaísta e poeta, professor de
literatura brasileira na Universidade Federal da Bahia. Em 1985 publicou um livro sobre
Gregório de Mattos e a tradição da sátira peninsular ("Gregório de Mattos, o
Boca de Brasa") que foi muito bem recebido pela crítica e pelo público. Outro
trabalho de sua autoria também publicado foi "Camões Contestador e Outros
Ensaios". Além desses, participou, em colaboração, dos livros "Dezoito
Contistas Baianos", "Da Ideologia do Pessimismo à Ideologia da
Esperança", "A Obsessão Barroca da Morte de Manuel Bernardes e Quevedo".
O autor do polêmico ""Memórias das Trevas - Uma devassa na vida de Antônio
Carlos Magalhães", Geração Editorial - São Paulo, ocupa a cadeira nº. 15 da
Academia de Letras da Bahia. Tem três livros de poesias publicados: "Ciclo
Imaginário", "O Domador de Gafanhotos" e "A Esfinge
Contemplada". Deste último, lançado pela Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro,
1988, pág. 216, extraímos o soneto acima.
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