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Ivana Arruda Leite
Luísa julgava impossível terminar seu caso com Mário. Um dia, tenra como um pintinho
saído da casca, chamou Mário ?sua casa e pediu que não a procurasse mais. Ele
relutou, mas foi. Ela nem chorou. Abriu a bolsa, apanhou a agenda e anotou o único
compromisso para o próximo fim de semana: ser feliz.
Luísa julgava impossível terminar seu caso com Mário. Sofria da síndrome do fracasso
prévio, j?tentara mil vezes e nunca havia conseguido. Um dia, tenra como um pintinho
saído da casca, chamou Mário ?sua casa e pediu que não a procurasse mais. Ele
relutou, mas foi. Ela nem chorou. Abriu a bolsa, apanhou a agenda e anotou o único
compromisso para o próximo fim de semana: ser feliz.
Luísa julgava impossível terminar seu caso com Mário. Sofria da síndrome do fracasso
prévio, j?tentara mil vezes e nunca havia conseguido. Aquele amor mais parecia um
câncer ou vício que não se cura. Ela esperava que um milagre acontecesse. Um dia, tenra
como um pintinho saído da casca, chamou Mário ?sua casa e pediu que não a procurasse
mais. Antes, porém, sentou no colo e falou que talvez ainda valesse a pena tentar. Mário
não disse palavra. Ela fez p?firme e pediu que ele fosse embora de uma vez. Ele
relutou, mas foi. Ela nem chorou. Fez um caf? sentou-se na sala e acendeu um cigarro.
Abriu a bolsa, apanhou a agenda e anotou o único compromisso para o próximo fim de
semana: ser feliz.
Luísa julgava impossível terminar seu caso com Mário. Sofria da síndrome do fracasso
prévio. J?tentara mil vezes e nunca havia conseguido. Estavam juntos h?mais de oito
anos, mas Mário s?prometia casamento quando bebia além da conta. Aquele amor mais
parecia um câncer ou vício que não se cura. Ela esperava que um milagre acontecesse. Um
dia, tenra como um pintinho saído da casca, chamou Mário ?sua casa e pediu que não a
procurasse mais. Antes, porém, sentou no colo e falou que talvez ainda valesse a pena
tentar. Mário não disse palavra. Nisso tocou o telefone. Era a mulher de Mário dizendo
que hoje era o último dia para pagar o Credicard. Mário pediu dinheiro emprestado a
Luísa e foi entregar ?mulher que estava esperando l?embaixo. Com o talão de cheques
aberto sobre a mesa, Luísa disse olhando fundo nos seus olhos: voc?não tem d?de mim?
Mais do que voc?pensa, ele respondeu. Tava na cara que aquilo era frase feita, ele nunca
quis mudar a situação. Ela fez p?firme e pediu que ele fosse embora de uma vez. Ele
relutou. mas foi. Ela nem chorou. E eu ainda lhe paguei o Credicard. Fez caf? sentou-se
na sala e acendeu um cigarro. Abriu a bolsa, apanhou a agenda e anotou o único
compromisso para o próximo fim de semana: ser feliz.
Luísa julgava impossível terminar seu caso com Mário. Sofria da síndrome do fracasso
prévio, j?tentara mil vezes e nunca havia conseguido. Estavam juntos h?mais de oito
anos, mas Mário s?prometia casamento quando bebia além da conta. No começo foi um
romance muito apaixonado. Acreditavam que haviam nascido um para o outro. Hoje, aquele
amor mais parecia um câncer ou vício que não se cura. Ela esperava que um milagre
acontecesse. Um dia, tenra como um pintinho saído da casca, chamou Mário ?sua casa e
pediu que não a procurasse mais. Antes, porém, sentou no colo e falou que talvez ainda
valesse a pena tentar. Mário não disse palavra. Nisso tocou o telefone. Era a mulher de
Mário dizendo que hoje era o último dia para pagar o Credicard. Mário pediu dinheiro
emprestado a Luísa e foi entregar ?mulher que estava esperando l?embaixo. Com o
talão de cheques aberto sobre a mesa, Luísa disse olhando fundo nos seus olhos: voc?
não tem d?de mim? Mais do que voc?pensa, ele respondeu. Tava na cara que aquilo era
frase feita, ele nunca quis mudar a situação. Ela fez p?firme e pediu que ele fosse
embora de uma vez. Não sei se se fez de surdo ou de bobo, mas sugeriu que fossem comprar
cerveja pra lavar a serpentina. Luísa disse que não estava a fim de cerveja porcaria
nenhuma e que não queria prolongar aquele inferno por mais nenhum minuto. Ele relutou,
mas foi. Ela nem chorou. E eu ainda lhe paguei o Credicard. Fez caf? sentou-se na sala e
acendeu um cigarro. Abriu a bolsa, apanhou a agenda e anotou o único compromisso para o
próximo fim de semana: ser feliz.
Meu nome ?Luísa, tenho trinta e sete anos e sempre julguei impossível terminar meu
caso com Mário. Passei a sofrer a síndrome do fracasso prévio, j?tentara mil vezes e
nunca havia conseguido. Estávamos juntos h?mais de oito anos, mas Mário s?prometia
casamento quando bebia além da conta. Sóbrio, tinha sempre um punhado de razões: o
filho, os cachorros, a casa, a mulher, o papagaio, a mãe doente, a grana. No começo foi
um romance muito apaixonado. Acreditávamos que havíamos nascido um para o outro. Hoje,
aquele amor mais parecia um câncer ou vício que não se cura. Sempre esperei que um
milagre acontecesse. Um dia, tenra como um pintinho saído da casca, chamei Mário ?
minha casa e pedi que não me procurasse mais. Antes, porém, sentei no colo e falei que
talvez ainda valesse a pena tentar. Mário não disse palavra. Depois riu: voc?j?me
falou isto mil vezes. Nisso tocou o telefone. Era a mulher dele dizendo que hoje era o
último dia para pagar o Credicard. Pois ele teve a cara de pau de me pedir dinheiro
emprestado e levar ?mulher que estava esperando l?embaixo. Quando perguntei: e nós? E
a nossa situação? Ele me disse: hoje ?o último dia pra pagar o Credicard e voc?quer
que eu pense na nossa situação? Ao subir, me encontrou feito estátua na sala de jantar.
Olhei fundo nos seus olhos e perguntei: voc?não tem d?de mim? Mais do que voc?
pensa, ele respondeu. Tava na cara que aquilo era frase feita, Mário nunca quis mudar a
situação. Fiz p?firme e pedi que ele fosse embora de uma vez. Não sei se se fez de
surdo ou de bobo, mas sugeriu que fôssemos comprar cerveja pra lavar a serpentina.
Disse-lhe que não estava a fim de cerveja porcaria nenhuma e que não queria prolongar
aquele inferno por mais nenhum minuto. Ele relutou, mas foi. Eu nem chorei. E eu ainda lhe
paguei o Credicard. Depois que ele saiu, fiz caf? sentei-me na sala e acendi um cigarro.
Nunca mais fui feliz.
Ivana Arruda Leite (1953) ?paulista de Araçatuba, socióloga e escritora. J?
publicou dois livros de contos, Histórias da mulher do fim do século (1997);
Falo de mulher (2002); um romance, "Alameda Santos" (2010), e um
livro juvenil: Confidencial Anotações secretas de uma adolescente, de
2003. Tem contos publicados nas revistas Ácaro, Coyote e PS.SP. Participou
das antologias Geração 90: os transgressores de 2003; Ficções
fraternas e Contos de escritoras brasileiras, Editora Martins Fontes
São Paulo, 2003, de onde extraímos o texto acima, pág. 145, seleção e
organização de Lúcia Helena Vianna e Márcia Lígia Guidin.
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