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O cego e a guitarra
Fernando Pessoa
(698)
O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.
Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.
Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.
(699)
Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.
Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.
Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.
O Releituras, com essa poesia, juntou-se àqueles que comemoraram a passagem
dos 120 anos do nascimento do autor (1888-2008).
Uma visão breve sobre a vida e a obra do maior poeta da língua portuguesa:
- 1888: Nasce Fernando Antônio Nogueira Pessoa, em Lisboa.
- 1893: Perde o pai.
- 1895: A mãe casa-se com o comandante João Miguel Rosa. Partem para Durban, África do
Sul.
- 1904: Recebe o Prêmio Queen Memorial Victoria, pelo ensaio apresentado no exame de
admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança.
- 1905: Regressa sozinho a Lisboa.
- 1912: Estréia na Revista Águia.
- 1915: Funda, com alguns amigos, a revista Orpheu.
- 1918/1921: Publicação dos English Poems.
- 1925: Morre a mãe do poeta.
- 1934: Publica Mensagem.
- 1935: Morre de complicações hepáticas em Lisboa.
Os versos acima foram extraídos do livro "Fernando Pessoa - Obra poética -
Volume único", Cia. José Aguilar Editora, Rio de Janeiro (RJ), 1972, págs 542/543.
Organização, Introdução e Notas, de Maria Aliete Galhoz.
Visite, até 30/01/2011, o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo (SP),
que apresenta a mostra interativa "Fernando Pessoa, Plural como o Universo".
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